quarta-feira, 30 de março de 2011

Os "Nossos" SOCIÓLOGOS...



LUÍS CAPUCHA

Luís Capucha, licenciou-se em Sociologia enquanto trabalhava na Mague, em Alverca. Actualmente Presidente da ANQ - Agência Nacional para a Qualificação, responsável pelas novas oportunidades, também foi trabalhador-estudante. Descarregou peixe na cais de Vila Franca de Xira e atrasou a entrada para a Universidade. Foi operário metalúrgico e já era encarregado de armazém do ferro, na extinta Mague, em Alverca, quando se licenciou em Sociologia. É um investigador apaixonado, vila-franquense de corpo e alma, ama as tradições da sua terra onde continua a residir.
Inicie esta nova secção, com o sociólogo e professor Luís Capucha por vários motivos, destacando-se entre eles,  o facto de ter sido o orientador da minha tese em Sociologia; ter sido tal como eu, trabalhador estudante; ser um grande benfiquista e acima de tudo, um grande sociólogo, com provas dadas, com um percurso deveras esplendoroso e com uma disponibilidade e compreensão para as dificuldades dos alunos, fora do comum, por isso mesmo dizer "NÃO", é algo que não entra no seu dicionário.

Mas quem foi Luís Capucha?  
Irei passar alguns excertos da entrevista que o sociólogo deu, no passado dia 17 de Março ao Jornal "O MIRANTE", semanário Regional, que teve o seu início na Chamusca, espalhando-se pelos cobcelhos limítrofes.
Como se comportava na escola o futuro investigador social?
Era o menino bonito da professora na escola do bacalhau. Não era um aluno particularmente bem comportado. Fazia o mesmo que os outros, ìa para a escola a pé, mas era bastante bom aluno.
Os meninos nessa altura andavam descalços?
Alguns meninos íam descalços, mas já não eram muitos. Lembro-me do Júlio que vinha do Monte Gordo e que andava descalço e do Sancho que era muito pobre, poucos presseguiram os estudos. Muitos não tiveram tempo para serem meninos.
No seu caso presseguiu os estudos?
Fui estudar para o Liceu Passos Manuel, em Lisboa, porque a minha mãe fez uma combinação com a professora Elsa para evitar que fizesse o exame de admissão à escola técnica onde andaram os meus irmãos mais velhos e os meus colegas que foram estudar. O meu pai não tinha dinheiro para me pôr no colégio Sousa Martins. Aos 10 anos comecei a ir todos os dias para Lisboa de comboio.
Foi trabalhar cedo?
Saí de casa aos 17 anos para ir trabalhar. O meu primeiro emprego foi como ajudante de servente na lota de Vila Franca de Xira a ajudar a carregar e descarregar peixe. Tinha média para entrar na Universidade, mas entrou o ano propedêutico. Tinha que fazer trabalho cívico e achei que se era para trabalhar ía trabalhar mais a sério. Primeiro nessa empresa depois, mais tarde, como operário metalúrgico na empresa que andou a montar o forno da Cimentejo.
Teve que aprender tudo?
Tive que aprender tudo mas aprendia rápido. Essa é uma das vantagens de quem estuda. Adapta-se com mais facilidade a diversos contextos. Quando saí da tropa fui trabalhar para a Atral-Cipan como operário químico e rapidamente fazia trabalhos de pessoas que lá estavam há mais anos. Para mim era fácil ler as prescrições, as sínteses químicas e interpretar resultados. As outras pessoas não tinham feito essa ginástica na escola. A mesma coisa aconteceu quando fui trabalhar para a extinta Mague, nos armazéns do ferro. Quando o encarregado do armazém do ferro se reformou, fui chamado para o seu lugar, o que quer dizer que com pouco mais de 20 anos era chefe de 40 homens, alguns com idade de ser meus pais, mas bastante menos qualificados. Fui agente de produção e encarregado de armazém e acabei por ser encarregado de todos os armazéns. Trabalhei na Mague mais de seis anos. Enquanto estive, fiz o 12º ano e voltei a estudar e fui para a universidade.
Decidiu-se logo pela Sociologia?
Teria sido a primeira opção, mas como não sabia que existia o curso de Sociologia à noite inscrevi-me em Direito. Fui só a algumas aulas. Não gostei. Por sorte encontrei um colega que estava em Sociologia - queria mudar - e falou-me do curso. Trocámos. Ele foi para Direito e hoje é advogado. Eu fui para Sociologia e hoje sou sociólogo.
A ideia de ser Presidente da Câmara não o fascina?
Nunca me deixei fascinar pelo poder. Nunca entrei em guerras ou insinuações no sentido de ir para este ou aquele cargo. A minha base é o ISCTE. Aquilo para que estou vocacionado é para fazer sociologia. Posso em determinados períodos da minha vida dar um contributo ao país, como tenho dado. A carreira que construí permitiu-me acumular um currículo que fala por si.Não preciso de me pòr em bicos dos pés perante ninguém no concelho de Vila Franca de Xira.
A Sociologia estará sempre em primeiro lugar?
Nunca podemos dizer sempre. Tudo depende do que vier a acontecer. Sou, como toda a gente sabe, um apaixonado pela minha terra. Tenho muita pena de a ver como está: as pessoas descrentes, o associativismo em crise, o tecido produtivo descaracterizado sem que apareçam actividades de ponta que permitam revitalizar a economia, acessibilidades cheias de problemas, espaços desarrumados urbanísticamente e um crescimento da construção numa terra que é dormitório de Lisboa. Se calhar o concelho precisa de uma outra lógica de liderança para poder ter um novo impulso.

Em suma, Luís Capucha, é sociólogo, vilafranquense e cosmopolita. Prefere uma boa discussão à paz podre. Detesta corruptos, principalmente se forem estúpidos, isto é, se provocarem mais males aos outros do que benefícios ilegítimos.
De operário chegou a docente no ISCTE-Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa, onde se formou a estudar à noite e a trabalhar de dia na extinta Mague, em Alverca. Concluiu o curso com média de 17 valores. Organizava-se e estudava ao fim de semana com colegas. Resolvia exercícios de matemática na antiga estação de comboios de Entrecampos, que tinha apenas um  pequeno abrigo de madeira, e por vezes deixava passar o comboio de tão embrenhado que estava no estudo. É doutorado, investigador das culturas populares, das classes sociais, das políticas sociais, interessado na educação, na pobreza e reabilitação. É socialista, de esquerda por convicção. Foi Director Geral no Ministério do Trabalho e Segurança Social e no Ministério da Educação e é actualmente Presidente da ANQ-Agência Nacional para a Qualificação.
É casado com uma enfermeira e pai de três filhos, os dois mais velhos de um anterior casamento. Nasceu em Lisboa a 10 de Fevereiro de 1957, mas é vilafranquense de coração. Foi o único dos sete irmãos a nascer fora de casa, no Hospital de Santa Maria, por recomendação do médico. Três dias depois estava na cidade ribeirinha onde cresceu e continua a viver. Reside no centro da cidade numa habitação que adquiriu e reconstruiu.

Retirado do JornalOnline "O Mirante" de 17.03.2011

Curriculum vitae

(resumo)


Luís Manuel Antunes Capucha, 54 anos, é Doutorado em Sociologia do Desenvolvimento e professor no ISCTE, onde lecciona desde 1987. Principais áreas de pesquisa e ensino: pobreza e exclusão social, educação, políticas sociais e de emprego, educação, cultura e desenvolvimento, classes sociais e estratificação e metodologias de avaliação.
Entre 1997 e 1999 foi Adjunto do Coordenador Nacional do Projecto Vida, entre 1999 e 2002 foi Director-Geral do Departamento de Estudos, Prospectiva e Planeamento do Ministério do Trabalho e da Solidariedade, coordenador nacional do Plano Nacional de Emprego, membro do Comité de Emprego da União Europeia e do Conselho Económico e Social.
É Director-Geral da Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação deste Maio de 2006. Coordenou ou participou em treze projectos de avaliação de programas e políticas sociais, de educação/formação e de desenvolvimento social e em dezassete iniciativas de avaliação de projectos. Fez parte de equipas responsáveis por sete projectos de pesquisa internacionais e vinte e um nacionais, na qualidade de coordenador ou de membro das equipas de investigadores e ou avaliadores.
É autor, co-autor e coordenador de cento e trinta títulos publicados no estrangeiro (Espanha, França, Alemanha, Itália, Grécia e Reino Unido) e em Portugal, incluindo livros, capítulos de livros, artigos em revistas científicas e textos editados em actas de colóquios e congressos científicos.
É ainda autor de cento e quarenta comunicações em congressos científicos, seminários e outras sessões de debate em Portugal e de cinquenta e cinco comunicações em reuniões científicas em países como a Polónia, Itália, Irlanda, Bélgica, Brasil e Canadá, Espanha, França, Alemanha e Reino Unido.
Tem sido e continua a ser, na qualidade de voluntário, membro activo e dirigente de grande número de associações de carácter profissional e também de carácter cultural, desportivo e recreativo.

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